O GATO, A MASSA DO PÃO, E O DISCO- VOADOR! ( uma história para Nathália).

     Muito, muito tempo atrás, fui convidado para sentar e conversar em uma padaria na Vila Romana, Zona Oeste de São Paulo. O assunto, como sempre era a indefectível possibilidade de existir vida inteligente vagando pela Via Láctea...De cara, fui surpreendido, pois ao invés de sentar no balcão e beber um café, enquanto conversava , o dono do lugar, me levou para uma mesa rústica, ao lado do forno, dentro dos " bastidores" onde se assavam os pães. 

Sobre a mesa, que parecia ter 70 anos, mas sólida como a proa de um navio, um prato com uma porção generosa de copa, feita ali mesmo na padaria e um vinho tinto, encorpado como petróleo e dois copos... Confesso que a " fotografia" estava bonita, verdadeiramente cenográfica, como só a sensibilidade mediterrânea sabe produzir...

     Depois de 40 minutos, mais ou menos, o assunto " disco- voador", ainda não tinha surgido, mas já tinha escutado, várias  peripécias dos tempos de juventude do meu simpático anfitrião. 

A conversa iria longe... Sou contador de histórias, mas também sou bom ouvinte... Quem não gosta de boas histórias?  

Falou que esteve na campanha de Mussolini quando a Itália invadiu a Etiópia. Puxa isso agora, já faz 89 anos... Certamente o bom confeiteiro já mudou de frequência vibracional, faz tempo! Ele já era idoso, quando me chamou para ter essa conversa, que virou monólogo, rsrsrs...

Em dado momento, não muito longe daquela mesa, alguns padeiros começaram a colocar umas tigelas grandes com bolotas de uns dez quilos, contendo massa de pão, que aparentemente iam " descansar" para sofrerem o processo de fermentação. Essas bolotas foram cobertas com panos alvissímos de linho branco, e o conjunto todo apenas melhorou a " cenografia" daquela conversa- monólogo. 

Meio minuto após os padeiros cobrirem as massas com o tecido de linho, surgiu do nada e silencioso como a noite, escondida na garagem( e sem luz, ainda por cima!) Um gato, grande... Fofo como uma ovelha, grande... Gordo, com o maior bigode de gato, que me lembro de ter visto alguma vez. E a pelagem? Um " riscado" , " tracejado", ou seja lá qual for a palavra! Imagine uma zebra de 18 quilos, só que peluda como um novelo de lã! Pois esse verdadeiro " prefeito" do mundo felino, rebolou altivamente em direção às bolotas, e tocou a primeira, como se estivesse caçando uma serpente, mal roçando no tecido.

Meu anfitrião se calou, serviu mais uma dose de vinho em meu copo, serviu a si mesmo, e fez um gesto imperceptível, para que eu não fizesse movimentos bruscos.

O gato que se chamava " Esfolhado" , " Desfolhado", alguma coisa do tipo, aliás seu nome era italiano, como seu dono , meu anfitrião, um milanês, também o era. Então  o gato  Defogliato, que soa mais ou menos, como " Deforiato". Defogliato prosseguiu naquela atividade, tocou o tecido de três bolotas, parecia flutuar, o honesto Desfolhado, e do nada , entrou dentro de uma das tigelas!!! Tomando todo o cuidado do mundo para não pisar na massa!

Ficou ali uns segundos... Muito compenetrado, ou dormindo fingindo compenetração, sabe- se lá!

Eu olhava para o Confeiteiro que olhava encantado para o Desfolhado, ou Defogliato, como preferir.

Pois não é que o danado do " gato que perdeu as folhas", deu a mesma " dormidinha" nas outras três bolotas, sempre tomando cuidado, sem encostar ou fazer peso sobre a massa " descansando"?

Sem ter o que fazer, ou falar, peguei uma generosa porção de copa e bebi um bom gole de vinho para ajudar a descer aquele embutido defumado... Vi que aquele mistério, tinha seu próprio tempo, para ser explicado.

O Defogliato levantou com pés de brisa em neve fofa e sumiu padaria adentro, do mesmo jeito que apareceu.

Seu dono então, me olhou e com uma nota muito séria, explicou que o gato, possuía " dons de cura", dono de guarigione , e que sempre que ele estava passando mal, o milagroso Defogliato, se aproximava muito cuidadosamente, e " dormia ou ficava compenetrado" , e sempre as dores iam embora! 

E em meio à copa e aos copos, meu bom amigo confeiteiro demorou mais uma hora ou mais, contando as " curas" do gato Defogliato, verdadeiro Apolônio de Tiâna do mundo dos felinos, inclusive, jurou de pés juntos, que uma sua tia desenganada, foi salva pelo gato!

     Quanto ao " disco- voador " , parece que em seus dias de invasão da Etiópia, toda a companhia, que são um montão de soldados, viu um estranho objeto pairando sobre as trincheiras... Mas ou o vinho " pesou", ou o herói do dia, era mesmo o Defogliato ! Pois a conversa se encerrou, e este que isto escreveu, nunca mais viu nem Defogliato, nem o falante milanês...

DEDICAÇÃO:

    Dedico está história para a Nathália Pereira Moreira, que não sei se faz pães, mas gosta de gatos, gosta de vinhos e gosta dos amigos!