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terça-feira, 3 de setembro de 2024

CONVERSA SÉRIA SOBRE MORADORES DE RUA.


     Quero aproveitar, que o clima deu uma trégua e a temperatura subiu, para falar um pouquinho sobre nós, que dormimos em uma calçada , cobertos por uma prosaica lona de plástico preto...
Antes, preciso expor algumas características físicas  e mentais que possuo.
     Primeiro, sou um morador de rua que não usa álcool, não usufrui de nenhum tipo de droga recreativa, psicodélica, ou o que muita gente chama de " plantas de poder"...
Também aparentemente, possuo uma capacidade de comunicar meus pensamentos, usando uma linguagem tendo cuidado com  o uso, o mais adequado possível das palavras. Afinal, as palavras são a vestimenta de nossos pensamentos...
     Tenho sessenta anos, e destes sessenta anos, estes últimos tem sido um período de escassez de alimentos, e outros cuidados básicos com a saúde... E incluo na lista, a irregularidade do asseio pessoal. Ou seja, sem acesso à água quente para banhos. Muitas vezes, simplesmente, sem acesso para água!
Nesse " regime" de escassez alimentar, acabei desenvolvendo anemia, e isso aliado ao frio, me fez perceber, que um sujeito com a minha idade e com 55 quilos, começa a sofrer sintomas leves de hipotermia, quando submetido a baixas temperaturas, e me refiro à 20 graus, 15 graus... Não precisa ser de 4 graus, como andei passando em algumas madrugadas!
E ao caminhar pelas ruas do bairro, empurrando um carrinho de rodas, com peso, a minha capacidade de raciocínio, começou a falhar! Sentia vertigem, muito frio, as palavras soavam balbuciando, uma dificuldade incrível para atravessar a rua movimentada...
Percebi que as pessoas, olhando para este que isto escreveu,  e não " vendo", interpretavam esses sinais, como indício de embriaguez ou algum outro torpor produzido por substâncias ilegais...
Por favor, não faça isso! Me vi em apuros e situações vexatórias, quando minha fala " trepidante", por conta de uma inexplicável incapacidade de falar e pensar claramente, foi confundida como " coisa de bebum drogado"! 
Nós pessoas da tal " vulnerabilidade social " não precisamos de julgamentos! Precisamos de boa vontade de vocês abastados, de sua paciência em ouvir um pouco, o que essa centena de milhar de corações tristes, pela fome e frio, tem à dizer. Estou falando de um pouco de atenção  ! De um tanto de empatia , de se colocar na posição do outro. NÃO NOS JULGUE ! Aliás, não julgue ninguém! A vida é muito curta, para que percamos tempo...
     Confesso que estou em uma posição, onde através de disciplina e meditações e muito apreço à razão filosófica, aliado à uma aparência, minimamente cuidada, é mais fácil, parar para me escutar... Por sorte, ou mérito, não importa. Tenho um repertório bem vasto! Mas ainda sou um " dorme-sujo"!Como dizem por aí.
Outras pessoas, que não conhecem filosofia ou técnicas de respiração e estão na triste situação de desabrigados, tem como ferramenta, os " anestésicos" da calçada, portanto, estou falando de álcool, cocaína, etc... Mesmo assim, tente não julgar, coloque-se no lugar do outro, por favor! 
     Foi a única ferramenta que essas almas, encontraram para driblar a fome e o frio!
Não vou me estender mais. Só quis explicar, o que o frio faz com a minha mente e corpo, e com a mente e corpo de outras pessoas que, assim como eu , estão passando por uma fase de maus- bocados! Isso não deve  passar por severos processos de julgamentos, antes de você  conhecer todos os fatos...
     No mínimo, trata- se de um caso agudo de saúde e não questão de " falta de vergonha"!
Julgar é um grande transtorno para o progresso psíquico da humanidade. Cair nisso, é fazer o trabalho desamoroso das agendas trevosas deste planeta!

3 comentários:

  1. Alguna vez has pensado en ir a un refugio?

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  2. No hay algún trabajador social que pueda ayudarte?

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  3. SONHADORIA PAULISTA DE TUDO.16 de setembro de 2024 às 21:58

    Anônimo... Muito agradecido pelo comentário! Se quiser dar uma força e se tornar seguidor... O Blog agradece! Fraternissímo abraço sempre!

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