Arquivo do blog

domingo, 25 de fevereiro de 2024

E.Q.M. ( EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE).


E.Q.M. refere-se a um conjunto de visões e sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente, sendo as mais divulgadas a " projeção de consciência " , sensação  de serenidade " e a " experiência do túnel".
Esses fenômenos são normalmente relatados após o indivíduo ter sido pronunciado clinicamente morto ou muito perto da morte, daí a denominação E.Q.M.
         Em 2.000 ou 1999 para 2.000, fui passar uma temporada na Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso de Goiás, no estado do mesmo nome.
Nesse lugar de cachoeiras, fauna e flora espetaculares, foi onde protagonizei mais uma esquisitice, das muitas que me aconteceram e acontecem.
     Foi assim...
No alto do Morro da Baleia, o Leste estava escuro, chuvoso e sem visibilidade, já para os lados do Oeste, o dia estava glorioso, um Sol que rumava em direção ao ocaso, magnífico e havia uma linda cortina de chuva, varrendo a paisagem  da esquerda para a direita. Um momento perfeito!
     Para se chegar ao platô que forma o Morro da Baleia, devemos começar a escalada pelo lugar que seria a " cauda" da Baleia, escalada essa, não muito fácil e que me custou  umas cinco horas. Lá chegando, o viajante é presenteado com um cenário  que faz valer o esforço. 
Lá do alto, pode-se descortinar  uma das paisagens mais bonitas do planeta e um lugar conhecido como Jardim de Maytreia, que já foi fotografado e usado como ilustração de um calendário  de um famoso fotógrafo da região. 
          Chegando então  na " cauda da baleia", comecei a caminhar em direção à " cabeça da baleia", que era o meu destino, por uma trilha já bastante batida e no meio desse corredor existiam muitas moitas de mato alto, o que me fez saltar, para evitar aquelas touceiras cerradas. Quando atingi uma lage de pedras, sem mato alto, do outro lado daquelas moitas, senti como que uma arranhada no tornozelo esquerdo.  Nada de dor, apenas isso: uma leve arranhada.  Quando olhei para baixo. Para ver o que havia me " espetado", observei uma enorme cascavel  saindo do meio daquelas moitas e ao mesmo tempo, olhei para a minha direita e vi, o que pensei ser, o restante do corpo do animal, chacoalhando os ramos daquele capinzal.
Eu não havia percebido que eram duas serpentes, onde cometi o equívoco de achar que a serpente da direita, fosse a " continuação de uma única e longa cascavel 
Que me deixou estarrecido com seu enorme tamanho, rsrs...
     O que ocorreu, é que saltei em má hora e atritei bem no meio de duas cascavéis acasalando!
     Faço aqui uma digressão, pois a primeira coisa que me perguntaram, foi se eu matei as serpentes ___  Não senti raiva da cascavel, pois morder intrusos( e eventualmente jantá-los) era o seu mister. E eu havia invadido a sua casa, no final das contas. E bem na Lua de Mel!!!
Fiquei um minuto ali, tomado da serenidade que esse fato me causou, e em momento algum, tive pensamentos negativos de violência. 
Na verdade, analisando calmamente a situação vi que não havia a menor possibilidade de chegar a tempo em um hospital, que distava umas três ou quatro horas de carro.
Percebi que estava na melhor das despedidas da vida que levara aqui neste planeta, nessa específica frequência vibracional. 
Tendo uma belíssima paisagem como moldura, resolvi sentar num ressalto de rocha, que lembrava uma cadeira e quedei- me ali, imaginando o que iria ocorrer e que tipo de " breca" o veneno me propiciaria . E enquanto esperava a morte, fui admirando a luz, o Sol que iluminava a chuva, o voo de um falcão, todas essas coisas estavam ali muito mais presentes  do que em qualquer outra ocasião  da minha vida. Tudo ao meu redor transpirava  certa qualidade de serenidade amorosa.
     Sentado ali naquela rocha, os verdadeiros ossos daquela montanha, fui repentinamente possuído de uma singular concórdia  , estava resolvido a esperar e observar como meu organismo reagiria ao meu encontro com aquela cascavel.
Alguma outra coisa interna da minha mente tomou as rédeas da situação  e me pôs em movimento, e então  comecei o longo processo  de desescalar  o Morro da Baleia, foi uma tarefa  que ali, naquele momento, realmente  me pareceu uma tolice, pois eu havia demorado cinco horas para chegar até a " cabeça da baleia "e isso estando de posse de todas as minhas faculdades físicas e mentais, mas agora, depois de ter na circulação  sanguínea, a letal neurotoxina da serpente, que me fazia sentir câimbras  tão fortes e espalhadas por quase todos os centímetros do corpo, onde eu observava o meu braço  e podia ver os músculos  se contorcendo como se houvesse  um animal rastejando ali embaixo da pele. E como isso doía!
Padeci essas fortíssimas câimbras nos músculos abdominais e era muito estranho olhar para a própria barriga  e perceber como esses músculos ficavam " subindo e descendo ". Um efeito especial, desses que se vê em filmes de terror  . Havia também, algo errado com a minha  coordenação  motora, pois eu tentava caminhar  em frente e terminava dando passos trôpegos à esquerda  ou à direita . A visão  estava muito ruim, e tive um tipo de visão-dupla  e para poder seguir o caminho rumo às faldas da montanha, era obrigado a encostar  o queixo no peito e espiar " por cima dos olhos", pois a potente neurotoxina crotálica( crotoxina) tem a capacidade de fazer a íris " subir" como se estivéssemos olhando em direção ao meio da testa.
Essa maneira canhestra de tentar caminhar  era muito incômoda, além do que, eu precisava usar os pés e as mãos para ajudar na descida. Esse seria o jeito normal de se desescalar, não fossem as câimbras que literalmente mordiam com dentes afiados, eram fortes e doloridas e não me permitiam dobrar os membros.  Era como se meus braços e pernas estivessem engessados nas juntas. 

Fui obrigado a me dependurar nas saliências  do paredão da montanha e da melhor forma possível, olhar para baixo( o que era bem difícil!)  e soltar as mãos, o que me fazia cair como um " saco de batatas".Eu torcia para não quebrar uma perna ou o pescoço. 
Isso foi uma das coisas mais estúpidas que já fiz na vida, mas naquele momento não consegui fazer com que o meu corpo agisse de outra maneira, e o veneno  estava rapidamente acabando com os comandos do meu sistema nervoso central.  Foi com muito custo, com muito esforço  que consegui chegar ao sopé do Morro da Baleia e quando lá cheguei, debaixo de uma torrencial  chuvarada, tropeçando nos próprios pés, eu ainda estava uns quatro quilômetros distantes do lugar onde havia estacionado o carro, na estradinha vicinal de terra.
Não conseguia dar mais um passo sequer e desabei de cara numa poça de lama, e fiquei literalmente  com a cara no barro, " borbulhando " imprecações e maldizendo a minha tola decisão  de descer a montanha. 
Lá no alto daquele belo platô, pelo menos eu teria uma boa morte, apreciando uma linda paisagem, com aves e animais selvagens, cairia duro, porém majestosamente entronado e dono de uma invejável  serenidade mental muito adequada  para aquele momento. 
Segurava o meu cajado  de viajante, e meu chapéu de abas moles da infantaria blindada, e não fazia má figura. Mas não, resolvi buscar socorro e  agora estou aqui ... no chão, com a cara enfiada na lama e sem conseguir mover um músculo, sentindo dores até na ponta da orelha! Como diria minha avó: " Che bella situazione di merda" !
Quis a sorte, o Destino, os extraterrestres, ou seja lá qual Força Que Controla nossas vidas, que Júlio, um gerente de banco, que conheci ali mesmo em Alto Paraíso de Goiás , resolvesse passear com a sua mais recente pequena, uma inteligente e linda agrônoma, que se chamava La Catalina, muito simpática. 
           Assim, esses bons irmãos  vieram e me encontraram na triste situação que descrevi. Caído na lama e pronto para entregar a " taça de ouro" ao seu verdadeiro dono e partir o " cordão de prata". Poderia continuar escrevendo  sobre a correria que foi chegar até a cidade e colocar a minha dolorida carcaça dentro de uma providencial ambulância que, oito horas depois da mordedura da serpente me deixava na maca do Hospital H- RAM na cidade de Brasília e para ser sincero, este que isto escreveu, estava mais " para lá  do que para cá"!
     Enquanto  desfrutava da hospitalidade  do H- RAM, sofri grandes alucinações, causadas pela neurotoxina da cascavel.  Lembro que num desses momentos  de alucinações, eu conversava com uma moça loira, muito bonita, uns 25 anos, trajada elegantemente, como se fosse una estrela de cinema  dos anos 1950. Ela usava luvas de pele de cachorro de cor verde e um casaco que aparentava ser muito caro. Nesta alucinação, que sob todos os aspectos  era um lugar real,e em nada se distinguia de outros lugares em que já estive. Este que isto escreveu, caminhou até um edifício  muito grande e imponente, parecido com o Palácio de Inverno do governo de São Paulo, na cidade de Campos do Jordão.  Ou com o prédio da prefeitura de Munique, Alemanha. 
Confesso que me sentia um pouco desorientado e sentia que eu estava dando voltas por ali havia muito tempo  e comecei a caminhar em direção  à porta principal  daquela construção e lá chegando, novamente me vi frente a frente com a loira elegante e usando luvas feitas de pele de cachorro, algo inimaginável neste 2024, mas que era bem normal antigamente .
Ela do alto dos seus vinte e poucos anos, me olhando nos olhos e tão próxima do meu rosto que eu podia sentir o seu perfume e o calor de sua pele, um perfume muito sutil.
Essa moça me dizia: " Para começarmos uma caminhada, devemos dar o primeiro passo".  ___ Era só o que faltava! Perdido em tremenda confusão física e mental e tendo que aturar essa jovem à falar sandices, que de forma alguma trariam esclarecimentos!
Eu voltava sobre meus próprios  passos e enquanto me afastava daquela mulher, percebia que uma força qualquer me obrigava a andar em círculos, e isso aconteceu tantas vezes que o número e o tempo gasto não  tinham mais importância. 
Este que isto escreveu, estava preso em uma alucinação circular, verde, doentia e aflitiva mas extremamente real. Eu poderia usar a palavra " sólida.
     E retomava a caminhada perdido em direção  à porta daquele imenso prédio, onde pela enésima vez, era abordado por homens e mulheres, muito nervosos, muito transtornados, me pegavam pelos ombros, me chacoalhavam e gritavam, perguntado que lugar era aquele? Onde estavam? Eu até que estava tranquilo, perto desses... E como não tinha informações que valessem a pena, era deixado em paz. Claro que a jovem loira ali estava e vinha falar comigo, eu a escutava atentamente.  Ela dizia: " Para bater palmas devemos unir e separar as mãos " , ou algo assim: " As folhas mortas das árvores caem"... E é claro, está outra pérola de sabedoria:  "Para subir uma montanha, primeiro devemos achar a montanha ". 

E a linda mulher me dizia estas frases com tal ênfase  e elegância, lançando um olhar intenso e de grande urgência, que minha aflição e ansiedade  aumentavam muito, causando  um grande sofrimento, que me fazia sair correndo em direção à uma escadaria que circundava toda aquela construção.  No alto, à esquerda desta escadaria, ouvi um rosnado animal, não de raiva, mas quase um pigarrear bem discreto, com a finalidade de chamar a minha atenção.  Olhei em direção ao ruído e ocultos na luz lusco- fusco do crepúsculo distingui cinco ou seis belíssimos cães- pastores alemão...
Com a cor do pêlo puxado para o caramelo  escuro.
Esses cães  eram impressionantes! Tinham o porte de verdadeiros leões e emanava dignidade  e realeza sobrenatural. 
Eu passei muitas vezes por esses cães, mas devido a obscuridade da luz crepuscular, não os tinha percebido, tão mesclados à escuridão.  Eles rosnaram apenas para chamar a minha atenção.  Eu fiquei  ali, olhando- os e eles devolviam esse olhar, que era carregado de inteligência, sabedoria  e bondade.
Sua postura  majestosa e serena me fez pensar que eu estava diante  de antigas esfinge vivas .
Esses cães, falaram então comigo, em português, com sotaque  caipira do interior do Estado de São Paulo! Pequenas frases, expressando sua consternação pelo meu sofrimento. Havia bondade em sua fala mansa, mas também uma grande comicidade, foi uma experiência perturbadora conversar com aqueles cães, eu me virava e continuava a correr em volta daquela monumental construção, onde invariavelmente encontrava a jovem loira e já surgia algo do tipo: " Uma gota d'água brilhando ao Sol é apenas uma gota d'água brilhando no Sol"... UFFF!
Sofri outro tipo de alucinação, que acontecia quando já havia saído da U.T.I. e estava no quarto da enfermaria e capengando conseguia tomar banho, por exemplo... E é claro, demorei para me acostumar com aquelas duas manchas redondas no peito, onde o desfibrilador havia me sapecado com 380 volts!
Nesses dias, uma gentil enfermeira aparecia e enquanto eu estava, sentado na beira da cama, tirando a temperatura, simplesmente " escorregava" para essa outra frequência vibracional, onde enxergava texturas... Imagens que lembravam um pedaço de bife frito, ou o interior amassado e emborrachado e úmido de algo que parecia o interior de um saco de papel pardo desses de padaria. Também visões do interior de algum tipo de mineral. Essas imagens vinham acompanhadas de uma sensação  de grande angústia e opressão insuportáveis!
Com a capacidade sensitiva que possuía, uma " voz" me passou algumas informações, dizendo que aquelas imagens estavam relacionadas ao reino mineral ou a segunda dimensão.  Também, pude " ver", em oposição à apenas olhar, o interior do meu estômago e as paredes do mesmo estavam cheias de muco verde e amarelado. " vi" túneis gigantescos e a tal " voz" me informou que aquilo era o interior do meu coração .
Escutei minha respiração, como uma ventania muito forte, como se eu estivesse em uma caverna.
Essa experiência específica  teve um efeito curativo, ou pelo menos, foi isso, que a intuição indicou .
Foi muito desconcertante, pois não havia transição.  Em um momento eu estava conversando com a enfermeira ou com a Doutora e no segundo seguinte, estava nesses outros lugares, tão reais, quanto o quarto da enfermaria! Muito , muito desconcertante... Além do medo, que as pessoas no meu entorno, percebessem, e eu ainda poderia parar em um hospício de Goiás, sem documentos! Minhas coisas estavam no quarto da pousada, onde havia me instalado. Fiquei 40 dias nessa roubada hospitalar!
     A neurotoxina do veneno desta serpente foi uma experiência real, seja lá, como posso interpretar  " real". Algo que na falta de um exemplo melhor, poderia ser comparado à ingerir AYUASCA , apenas que bem mais vívido. Uma das substâncias mais fortes e mortais que eu experimentei. E os efeitos devastadores desses " flashes" me acompanharam por muitos meses, depois de sair do hospital, voltar ao trabalho na MTV-BRASIL, em São Paulo.  Passei por muitas situações, em que fiquei com cara de paisagem, tentando disfarçar o comportamento esquisito...

Um comentário:

  1. Puxa! Peço desculpas pelos vários erros na digitação. Lendo o texto, também percebi que deixei de colocar vários outros fatos que ocorreram. O QUE eu chamei de " flashes" perduraram por muitos meses, e efeitos físicos do veneno também. Minha perna esquerda, ficou " anestesiada" por 6 meses! Poderia espetar um alfinete do joelho para baixo. que isso não incomodava! 24, 25 anos depois, padeço com. câimbras e má circulação... Poderia preencher um a nova postagem, apenas com os episódios " flashes" , pós picada... Só não faço, porque não vejo relevância na casuística.

    ResponderExcluir